
1.o que é a crase?
Vamos iniciar o nosso estudo compreendendo o que é a crase e como esse fenômeno ocorre na língua portuguesa. Para isso, é importante recorrer às definições dos principais gramáticos da nossa língua, que ajudam a entender de forma precisa o seu funcionamento.
Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra,
“A crase é a fusão de duas vogais idênticas numa só. Dizendo de outro modo, a crase é a junção da preposição ‘a’ com o artigo definido ‘a(s)’, ou ainda da preposição ‘a’ com as iniciais dos pronomes demonstrativos aquela(s), aquele(s), aquilo ou com o pronome relativo a qual (as quais). Graficamente, a fusão das vogais ‘a’ é representada por um acento grave (`).”
Já o gramático Evanildo Bechara define de maneira mais direta:
“Chama-se crase a fusão de dois ou mais sons iguais num só.”
Com base nessas conceituações, podemos compreender que a crase é um fenômeno fonético e gramatical que ocorre quando duas vogais idênticas — normalmente dois “a” — se unem em uma única emissão sonora, sendo essa fusão marcada graficamente pelo acento grave (`).
De forma mais prática, isso quer dizer que a crase aparece quando uma palavra que exige a preposição “a” (como certos verbos ou expressões) vem imediatamente antes de outra palavra feminina que começa com o artigo definido “a” ou “as” ou diante de pronomes (relativos ou demonstrativos) que iniciam com a letra “a”.
Essa união resulta em à ou às; àquele(a/s) ou àquilo; à qual ou às quais.
Por exemplo:
- Vou à escola.
Nesse caso, o verbo ir exige a preposição “a”, e o substantivo escola vem acompanhado do artigo feminino “a”. A fusão das duas vogais gera a crase.
Portanto, entender a crase não é apenas saber onde colocar o acento grave, mas reconhecer a presença simultânea da preposição e do artigo — o que exige atenção à regência verbal e nominal.
Esse domínio é essencial para quem deseja escrever com clareza e, principalmente, para quem se prepara para concursos públicos, onde o tema é cobrado com frequência e precisão.
2. Quando Vai Ocorrer o Fenômeno da Crase
Com base nos conceitos apresentados, sabemos que a crase é o resultado da fusão de duas vogais idênticas, geralmente dois “a”. Essa fusão, contudo, não acontece ao acaso — ela ocorre apenas em situações específicas da língua portuguesa e está intimamente ligada aos conceitos de regência.
De modo geral, podemos afirmar que a crase aparece em quatro contextos principais:
Os três primeiros casos dependem diretamente da regência do termo anterior, ou seja, do verbo ou do nome que exige a preposição “a”.
No caso das palavras femininas, a crase ocorre quando o verbo ou nome anterior exige a preposição “a”, e a palavra feminina que vem em seguida é precedido do artigo definido feminino “a”. A fusão desses dois elementos (preposição + artigo) resulta em “à”.
Por exemplo:
Vou à escola.
Aqui, o verbo ir exige a preposição “a”, e o substantivo escola vem acompanhado do artigo definido feminino “a”. A fusão entre as duas vogais idênticas origina o uso da crase.) Em resumo: verbo pede preposição “a” + substantivo feminino com artigo “a” = à
Nos casos dos pronomes demonstrativos (aquele(a/s) e aquilo) e dos pronomes relativos (a qual e as quais), o processo é o mesmo: ocorre a fusão entre a preposição “a” exigida pelo termo anterior e o “a” inicial desses pronomes. O resultado será: àquele(a/s), àquilo, à qual e às quais.
Por exemplo:
Referi-me àquele assunto importante.
Aqui, o verbo referir-se exige a preposição “a”, e o pronome demonstrativo aquele começa com “a”. A fusão gera “àquele”.
Observe este outro exemplo:
Essa é a razão à qual me referi.
O verbo referir-se também exige preposição “a”, que se une ao “a” do pronome relativo a qual, formando “à qual”.
Essa explicação ajuda o aluno a visualizar que, embora a estrutura mude, o princípio é sempre o mesmo: a crase surge quando duas vogais “a” se encontram — uma vinda do termo que exige preposição e outra pertencente à palavra seguinte.
Já nas locuções de núcleo feminino, a situação é diferente. Nelas, a presença da crase não depende de regência, mas sim de uma estrutura fixa da língua, ou seja, a crase faz parte da formação natural da expressão.
Por exemplo:
À medida que estudamos, aprendemos mais.
Aqui, “à medida que” é uma locução conjuntiva fixa — a crase é obrigatória e independe de regência.
Portanto, lembre-se: a crase não ocorre por acaso, mas quando há o encontro de uma preposição “a” com outro “a” (de artigo ou pronome). Calma!
Nos próximos tópicos, vamos analisar cada uma dessas situações separadamente, compreendendo suas regras, exceções e a forma como as bancas costumam cobrá-las em provas.
